Lewis Hamilton: perseverança sul-americana é inspiração para atual favorito da Fórmula 1, que iniciou sua carreira nas pistas de kart

Hamilton no kart

Muitos dos esportes que se transformaram em paixões nacionais mundo afora têm sua origem em nações desenvolvidas. Entretanto, quando se estabelecem em diferentes culturas, são muitas vezes adaptados e transformados.

Foi assim que aconteceu com o futebol. No livro A pirâmide invertida, do jornalista inglês Jonathan Wilson, são comentadas as evoluções táticas do futebol desde a sua origem. O autor conta como o futebol chegou à América do Sul por meio de imigrantes britânicos que aqui estavam a trabalho, a estudo ou até mesmo apenas para se divertir. No entanto, o esporte praticado no Reino Unido acabou tomando formas bem diferentes em terras sul-americanas.

Tanto brasileiros quanto argentinos removeram a “dureza” do esporte bretão em sua forma original e elevaram ao máximo a leveza e a arte que se tornariam características no futebol dos dois países. E, para os puritanos do futebol à época, isso foi visto como uma afronta.

Já o automobilismo, por sua vez, pode não ter tanta flexibilidade para que esse tipo de “reconstrução” ocorra, mas os sul-americanos também quiseram se meter na história do esporte e conseguiram grande sucesso em suas empreitadas.

Desde o kart até a Fórmula 1, tivemos ao longo dos anos pilotos que enfrentaram barreiras geográficas e até mesmo financeiras para realizar o sonho de pilotar em pistas de forma competitiva. Alguns deles se tornaram multicampeões – caso de Juan Manuel Fangio, Juan Pablo Montoya, Ayrton Senna, entre outros nomes que ficaram marcados na história do automobilismo.

Esses atletas acabaram inspirando outros pilotos de países fora do eixo do Velho Mundo, que, mesmo não contando com sucesso semelhante, conseguiram realizar seus sonhos do mesmo jeito. Essa inspiração – em conjunto com o espírito de perseverança de Senna e companhia – chegou também na Inglaterra, na casa de um atleta nato.

Lewis Hamilton conquistou neste ano o seu sexto título de Fórmula 1 na carreira e também o seu terceiro seguido. Seu sucesso é reconhecido nos pódios das corridas da modalidade e também nas casas de aposta, que, por meio de várias estatísticas avançadas, conseguem dar previsões de alta qualidade quanto ao que irá acontecer no esporte, tornando-se dessa forma item-chave para as pessoas que gostam de ficar antenadas a respeito das pistas e dos circuitos. Não é por menos que o inglês de 34 anos é apontado como favorito ao título do ano que vem, conseguindo considerável distância para Charles Leclerc e Max Verstappen em suas chances de levantar o troféu da modalidade. Assim, Hamilton tem ao seu lado, como prova do seu sucesso atual e futuro como piloto na modalidade, tanto a opinião desportiva quanto as estatísticas.

Apesar da sua nacionalidade, Hamilton tem como uma de suas grandes inspirações o brasileiro Ayrton Senna. Não só por conta do estilo de pilotagem do tricampeão da Fórmula 1, mas também por ele ter sido um lutador que enfrentou grandes adversidades – como foi o caso de Hamilton em seu percurso até se tornar o atleta que é hoje.

Em entrevista recente para o portal UOL, Hamilton abriu o jogo quanto aos problemas que enfrentou quando ainda estava no kart. Uma vez que não vinha de família abastada, como boa parte dos seus rivais, seu pai teve que fazer diversos sacrifícios não só para introduzi-lo ao esporte, mas também para manter vivo o seu sonho de se tornar piloto profissional.

Hoje em dia, Hamilton não quer que pessoas como ele sofram com problemas semelhantes. Sua vontade, de acordo com ele, é se “engajar com a FIA [Federação Internacional de Automobilismo] e com a F-1 para facilitar o acesso aos mais jovens. Deveríamos trabalhar com essa perspectiva. Toda criança pode sair chutando uma bola, mas nem todas podem comprar um kart. Exige um investimento, mas não deveria ser tanto”.

A opinião de Hamilton vem de um lugar nobre. Ele mesmo sabe que se não fosse pelos sacrifícios feitos por ele e sua família, em conjunto com as condições econômicas da época, não estaria hoje ganhando troféus na Fórmula 1. Por isso, trabalha para que mais frutos como os dele sejam colhidos por outros aspirantes a atletas, que, assim como ele, também podem começar nas pistas de kart para, caso desejem, ir em direção aos circuitos de Fórmula 1.