O Birel-Targa que virou Sulam

O Birel-Targa que virou Sulam

Dionisio Pastore foi um amigo muito próximo que tive quando comecei com a categoria Vintage no Brasil.

Era provocativo, irreverente, muitas vezes um pentelho com “P” maiúsculo, mas um sujeito sincero, um verdadeiro amigo. Eu como bom italiano, vivia às farpas com ele.

Sempre houve um respeito muito grande entre a gente, tanto que pouco antes de seu falecimento em Fevereiro de 2014, ele estava totalmente engajado na idéia de me ajudar a tornar o Museu do Kart, um espaço físico.

Infelizmente perdi o amigo!!!

Ficaram suas histórias e dentre elas a do Sulam, contada aqui por quem viveu a época.

O que explanarei aqui, me foi repassado “cara a cara” em um dos eventos de vintage em que ele esteve presente.

É sabido por todos a grande competência do piloto Walter Travaglini, multi-Campeão Estadual e Brasileiro que participou ativamente do kartismo nacional em suas primeiras décadas.

Waltinho (como é conhecido), em uma de suas participações no Mundial, trouxe um ZIP Mirage, kart que havia feito sucesso no europeu daquele ano.

O kart foi copiado aqui em 1974, parceria do Waltinho com a Sulamericana carrocerias e revendido ao público como SULAM.

Infelizmente o projeto inicial não era muito bom.

Curto demais entre-eixos, não casou com nosso piso e pneus. Waltinho e alguns pilotos da Sulam faziam verdadeiras peripécias para conseguir vitórias, andavam acima do limite extremo, eram verdadeiros heróis por fazer milagres dentro da pista e por ganhar corridas com equipamento inferior.

Dionisio passou a guiar pela Sulam mas não gostou do kart e acabou indo para o Mini SS, kart baseado no Campeão do Mundo de 1973 e 74, o Birel Targa.

Birel Targa

Em 1973, dois karts foram trazidos do Mundial por Carol Figueiredo para servir como gabarito dos Mini SS, chassis que se tornaria grande vencedor e campeão de vendas no Brasil.

Um destes karts era azul e o outro sem pintura, no aço.

Birel Targa 1973

Em 1975 Carol parou de correr e os karts ficaram no depósito da Mini, sendo que o Dionisio comprou o chassi do kart sem pintura, levou para a pista, andou e não se adaptou ao estilo duro de guiar.

Pendurando-o na parede, ficou por lá durante meses.

Ayrton Senna, que na época era piloto da Segunda Categoria 100cc e andava de Sulam (de fábrica) descobriu que o esqueleto pendurado na parede era um quadro italiano e passou insistentemente a tentar comprar o kart de qualquer jeito.

A pressão foi tão grande, que Dionisio “deu” o quadro para ele, ou seja, em suas palavras: “Para de me encher o saco guri e vai embora!!!”

Ayrton montou o kart, testou, adorou o chassis que se mostrou muito rápido em suas mãos…pintou de laranja, colocou a plaquinha da Sulam na frente e o kart virou um Sulam…que ganhou muitas corridas com ele.

Sulam do Ayrton Senna

Partindo deste chassi, a Sulam alterou as medidas do seu primeiro modelo (ZIP Mirage) trazendo-as mais próximas às medidas de entre-eixos e bitolas do Birel Targa e mantendo assim as características visuais de um Zip (modelo base), somando para a marca várias vitórias nos anos posteriores.

Esta história foi narrada por Dioniso Pastore e confirmada por Walter Travaglini nos anos de 2013 e 2014.